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Quarentena - Memórias de um País Confinado:

Terra-Nova

 

A natureza, 40 dias antes da peste chegar, chamou as nuvens para que cobrissem o sol. Os verdes campos tornaram-se lamacentos e a neve cobriu as montanhas, os animais assombraram o homem e o homem tremeu. Durante dias, choveram os olhos do homem que sem sol se viu obrigado a permanecer entre paredes de betão. O céu estremeceu.  Quarenta dias choraram mães e filhos, chorou a natureza pelos seus habitantes.

Tristes ficaram o céu e a terra. Quarenta dias, de jejum de abraços, de desespero e de esperança. Quarentena de silencio e solidão. Mas eis que o homem se humildou e partilhou luzes, arco-íris, música…. Os homens deram as mãos, mesmo sem que estas se tocassem, e a terra começou a respirar profundamente sacudindo a sombra, a lama, as lágrimas. O Sol começou a espreitar, tímido, atravessando vidraças e o vento somou-se a ele para abrir as janelas e as portas ao homem permitindo assim que ele (re)aprendesse a amar e a viver em comunidade.

 A primavera chegou, tarde, cobriu os campos de rebentos de trigo e milho, as montanhas floresceram, os animais multiplicaram-se. O Homem amou, abraçou, acarinhou quarenta vezes quatro vezes mais, a si, ao outro, o céu e a terra. Eis que se fez Pessach na Terra. O homem, tal como o havíamos conhecido, renasceu. Fez-se forte, corajoso, encheu-se de vontades e afetos. Da liberdade condicionada se fizeram asas e novas formas de viver. Sonharam-se vidas, desenhou-se uma nova terra- a Terra-Nova.

 

 

Carla Monteiro (De L’Âme)

 

 

 

quarentena-memorias-de-um-pais-confinado
  • Autor: Vários Autores

  • Data de publicação: Agosto de 2020

  • Número de páginas: 994

  • ISBN: 978-989-52-8827-4

  • Colecção: Palavras Soltas

  • Idioma: PT

  • ChiadoBooks

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