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ANA TALAIA EU SOU ASSIM (1).png

O livro está impresso em papel puro branco, são 140 páginas cheias de cor, incluindo as ilustradas. Dividida em 14 capítulos que nos presenteiam com ilustrações delicadas, simples, minimalista...

Prefácio

Há sonhos que se têm; todavia, nem todos se conseguem realizar. Na verdade, em regra, poucos são realizados. Porque sonhar é muito fácil, difícil é tornar real aquilo com que se sonha. É necessário abrir os olhos para ver além do que veem; seguir pelos caminhos difíceis que fazem chegar; ser persistente e louco, por nunca – independentemente das dúvidas e das quedas que fazem atrasar – desistir ou deixar de acreditar em nós mesmos e em tudo o que somos capazes de concretizar. Em suma, é imprescindível ter uma enorme coragem e um Amor incondicional pela vida.

Ana Talaia é feita dessa fibra. Dessa coisa rara que é ter, para além do sonho, uma vontade imensa de o realizar. Conheci-a num internamento do Centro de Reabilitação do Norte e não me enganei quando percebi que para além de toda a sua ternura e delicadeza, havia uma pessoa com uma força tremenda para agarrar tudo o que é seu e a faz feliz. O epíteto de menina mulher assenta-lhe bem.

Parece-me que este livro, onde agora honrosamente escrevo o prefácio, é o resultado dessa maravilhosa postura perante a vida. A Ana queria escrever um livro, e escreveu. Simples. Pediu o apoio que tinha de pedir – porque todos somos interdependentes e não dependentes – e esforçou-se o tanto que se tinha de esforçar. Sem ser fácil porque, se fosse, não lhe interessaria. Aliás, tinha muito para ser complicado, como a autora nos lembra:

Pois que nasci com um rótulo. Eu nunca o vi, na verdade. Mas que o tinha, tinha. Na testa, no peito, nas costas, sei lá onde! Sei que dizia “Paralisia Cerebral” e todos pareciam capazes de o ler. Era admirável, mas também triste; porque antes de ter paralisia cerebral ou uma deficiência, eu era a Ana - uma criança como qualquer outra que só queria brincar e ser feliz.

Assim, quase sentimos o que é estar na pele da Ana, quando nos oferece esta noção muito clara do que é viver num país como Portugal, sendo diversa e não obedecendo aos padrões de normalidade, com que um dia decidiram que se deveria reger a vida em sociedade. É aqui que este livro se torna ainda mais do que isso mesmo. Para ser rigoroso, eu entendo-o como um documento do quanto a vida se constitui mais dura para aqueles que vivem com diversidade funcional, intelectual e/ou sensorial, como a dada altura nos descreve, debruçada nas questões da acessibilidade:

Fico muito triste e até mesmo revoltada com a falta de acessibilidades que existe no nosso país. É injusto, imoral, cruel e sei lá mais o quê, que eu esteja impedida de frequentar variadíssimos espaços, ao ar livre ou fechados, sendo também portuguesa. Ou não sou?!

Eu Sou Assim

Não pensem que se trata de um relato que se fica pela revolta ou denúncia. Vai muito além. A autora quer promover as mudanças na sociedade portuguesa que garantam finalmente a inclusão de todos, através de uma honestidade e franqueza desconcertantes, ao longo dos vários capítulos onde nos conta a sua, ainda, jovem vida. Ela fala-nos verdade e eu ainda acredito que a verdade é o veículo privilegiado para cuidar os temas que estão no domínio dos direitos humanos.

Todavia, esta obra mostra-nos sobretudo a felicidade que é viver sem entregas exclusivas e demoradas às tristezas, que só não as tem, quem já se mudou deste nosso sítio para outro melhor, dizem. É bom ficar com um sorriso nos lábios aos lermos as alegrias da Ana. De alguma forma, e sem conseguir explicar melhor, é como uma primavera que chega. Há mais luz, perfume e alegria depois de ler este livro. É o resultado de se ler quem consegue focar-se no essencial e manter, apesar das dificuldades, uma alegria e boa disposição absolutamente invejáveis e genuínas.

A autora tem o grande mérito de nos fazer acreditar que ser feliz, não tem tanto de complexo, como tantas vezes nos parece ter. Rir não é assim tão difícil, apesar de chorar também fazer parte. Saibamos nós lê-la e mereçamos toda a generosidade com que, a todos, entrega a sua história neste livro.

Rui Machado

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